O mundo capitalista deteriora a moral dos seres sociais em todos os sentidos. Como, economicamente e ideologicamente, ascendem na escala econômico-social capitalista aqueles seres sociais que exploram, oprimem, cometem injustiças, roubam, desviam recursos públicos, tem-se a impressão de que esse caminho é natural, inevitável, eterno e necessário. As multidões tiram uma conclusão destorcida: “O mundo é dos espertos!” E fica parecendo que todos precisam seguir esse caminho, fica parecendo que este seria o único caminho possível para a humanidade: “é preciso também ser esperto, é preciso também crescer com base na desonestidade”, muitos embarcam nessa ideologia.
Ora, enquanto socialistas livres, somos radicalmente contra essa naturalização, eternização, legitimação, inevitabilidade e aparente necessidade da dita “esperteza”, que, no fundo, é desonestidade. Os honestos precisam se rebelar e precisam governar o mundo, com uma ética socialista. Temos de ser radicalmente contra essa “esperteza” dos desonestos. Roubar, explorar o trabalho de outros seres humanos, oprimir pessoas, desviar dinheiro coletivo, desviar dinheiro público, cometer injustiças, puxar o tapete dos outros, aplicar regras políticas obscuras, não ser transparente na administração do dinheiro público, não ser transparente na administração das oportunidades públicas (concursos públicos deveriam ser, sobretudo, honestos), não ser transparente nas licitações públicas, enfim, enganar os outros, utilizar-se da “esperteza” para obter privilégios próprios ou para dar privilégios a terceiros, deve ser riscado de nossas práticas político-sociais.
Não podemos nos aliar com os desonestos, não podemos apoiar as práticas político-sociais dos desonestos. Não podemos sequer aliar e apoiar as práticas dos empresários, pois eles exploram seus trabalhadores, bancam os “espertos”, no intuito de aumentar seus lucros, no intuito de obter privilégios econômico-sociais. Assim, explorar a força de trabalho, mesmo que legitimado pelas leis capitalistas, no fundo, também é uma prática desonesta. Trabalhadores que também se apropriam de recursos públicos sindicais para obter privilégios próprios ou para privilegiar terceiros ou, quando ocupam algum cargo de poder, se apropriam de recursos públicos institucionais em privilégio próprio ou em privilégio de terceiros, não importa qual instituição pública seja, também não são nossos aliados. Não basta ser trabalhador, é preciso ser trabalhador honesto. Enfim, temos que governar com outra ética, temos de exercer outra ética no mundo, temos que varrer a desonestidade do mundo.
Escolher esse caminho é possível e mais do que nunca necessário. Se os honestos se calam e não assumem outras formas de governar o mundo, outras formas de se relacionar com o mundo, estão deixando que os desonestos e ditos “espertos” governem e imponham sua ideologia. Quais seriam as práticas simples de um governo socialista que obrigatoriamente precisa ser honesto? Expor publicamente a somatória dos recursos públicos arrecadados e decidir coletivamente quais são as prioridades de aplicação desses recursos. Todos os critérios de acesso aos benefícios públicos também precisam ser transparentes, jamais usando-se do poder para promover favorecimentos próprios ou privilégios de terceiros. Nenhum centavo das contas públicas deve ser desviado sem a decisão da coletividade dos trabalhadores honestos. Nós, socialistas livres, achamos que devemos ser radicais na construção de um mundo em que a honestidade seja a regra e não a exceção.
É lamentável que a desonestidade econômica-jurídica-ideológica tenha se tornado uma prática social tão comum. Somente nossa intransigência contra tais práticas sociais desonestas pode ajudar a construir um mundo socialista em que haja, de fato, igualdade de oportunidades, sem privilégios econômico-sociais. Quando a desonestidade pública se torna a regra, a maioria perde, a “esperteza” não é e não pode ser o caminho. O dinheiro desviado ou roubado em função de privilegiar um indivíduo ou privilegiar grupos de indivíduos é o mesmo dinheiro que vai faltar na satisfação das necessidades coletivas.